Confesso que vi de longe a polêmica sobre o livro indicado pelo MEC que aborda a temática do preconceito linguístico.
Não tenho tempo nem condições de escrever algo com mais aprofundamento por ora, mas devo dizer algumas palavras.
Em primeiro lugar, tenho visto um monte de gente dando opinião sobre o assunto que têm me feito lembrar do porquê eu não posso falar sobre física quântica ou teoria das cordas. Eu não devo falar sobre esses assuntos porque eu os desconheço do ponto de vista científico – tudo o que eu pudesse falar ficaria no nível do senso comum e o campo da ciência não me permite riscos de falas sem propriedade.
Esquecem, pois, os que opinam, muitas vezes, que os estudos da linguagem, a linguística, também é um campo científico e, portanto, são temerárias as opiniões que se fundem unicamente no conhecimento de senso comum.
O caso do livro da ONG Ação Educativa se enquadra nessa questão. Vi muita gente falando em erro ou incentivo ao erro, ou que o MEC defende que os estudantes podem falar errado, sem sequer discutir a noção de erro gramatical e em que ainda vale (se é que vale) essa noção.
Vi também gente criticando a noção de preconceito linguístico sem ter a mínima noção do que isso signifique. Vi gente falando sobre o assunto que jamais ouviu falar em variação linguística, linguagem, ideologia, discurso, sociolinguística, etc.
Ou seja, vi muito achismo.
Vi também que os meios de comunicação, para discutirem o assunto e atacarem o governo, como de costume, convocaram os maiores defensores da gramática. Como diz Marcos Bagno, assim como o mapa-mundi não é o mundo, a gramática e a norma culta não são a língua.
O livro e a questão avançam estudos de décadas. Aplicam as noções mais pertinentes sobre o ensino/aprendizagem da língua. Coisas básicas como compreender que não existe língua sem falantes e, portanto, a norma culta é uma abstração, não uma língua, já que ninguém a fala. Compreender, fundamentalmente, que o estudante precisa ser conduzido a entender que há registros e variações diferentes, adequadas a contextos diferentes*. E que todo mundo fala português corretamente, ainda que com variações, porque não existe outra língua portuguesa a não ser a falada. Mesmo que Pasquales puristas digam o contrário.
*Por que é mais fácil as pessoas compreenderem isso se falarmos do uso de norma culta e não linguagem de Internet em ferramentas de chat online ou redes sociais como o twitter? Por que todos são capazes de entender que o MSN exige um registro não-culto da língua (nem por isso incorreto), mas nem todos são capazes de entender que o morador da periferia, que não fala a língua do pat(d)rão, nem por isso fala errado?
Sidney Lopes
17/05/2011
Provavelmente o ímpeto da “grande mídia” em desqualificar as ações do governo a todo custo e a toda hora, explique a reação intempestiva e raivosa.Uma velha e conhecida mobilização do PIG contra qualquer processo transformador e que possibilite justiça,respeito e integração em nosso país
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Sidney Lopes
17/05/2011
Provavelmente o ímpeto da “grande mídia” em desqualificar as ações do governo a todo custo e a toda hora, explique a reação intempestiva e raivosa.Uma velha e conhecida mobilização do PIG contra qualquer processo transformador e que possibilite justiça,respeito e integração em nosso país.
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Pri
17/05/2011
Achismo no tocante à Educação existe desde que o mundo é mundo. Práticas educativas permeiam todo o espaço social – logo todos os atores se julgam no direito de condenar esta ou aquela prática, mesmo que ambas nasçam do meio acadêmico e exijam formação específica. Una-se a isso a estreita relação entre poder, prestígio e – adivinhão! – variedade linguística. “Todo mundo” mete o bedelho porque acha que pode e porque se sentiu ameaçado.
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Seu Cuca
23/05/2011
Blá blá blá… por falar em ser do contra só por ser, você parece se posicionar contra a mídia sem ter bons argumentos.
“(…) o estudante precisa ser conduzido a entender que há registros e variações diferentes, adequadas a contextos diferentes”
Me parece que você finge não saber que o medo aqui é que o estudante não seja efetivamente conduzido a lugar algum, pois traz a discussão a validade do ensino da gramática.
Os professores se esforçam para ensinar um menino a escrever e ler na norma culta e daí vem o MEC dizendo que tudo é permitido, que basta aplicar o contexto correto que tá tudo certo. Assim desanda o trabalho do educador. O menino pobre, que já se sente excluído, só poderá assumir que não tem porque aprender algo diferente do que já sabe e nunca se aplicará a conhecer o “outro lado da moeda”. Estará condenado à auto-suficiência da ignorância.
A maioria das crianças não tem discernimento para escolher o que pode ou não pode aprender.
Conheço uma educadora Sueca, nascida aqui no Brasil, que critica veementemente a educação na qual o jovem escolhe o que aprender. Ela diz, inclusive, que isso tá acabando com a força de trabalho do país.
Enfim, chega de blábláblá…
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danieldantas79
23/05/2011
Estamos, mais uma vez, discutindo entre achismo e o resultado de uma profunda reflexão teórico-pratica, realizada nas ultimas décadas, talvez nos últimos cem anos. Não tenho razão para apoiar o q pensa uma educadora sueca q critica mas não me diz em que bases.
E lembre que as LDB, q baseiam esse tipo de discussão nos livros didáticos desde 1997, não são uma criação do MEC desde ou de outro governo: resulta mais uma vez de muita pesquisa no campo das ciências da linguagem.
Tal discussão não pode se firmar no que achamos.
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Seu Cuca
24/05/2011
É verdade, falo sem embasamento. Me calo. Mas se permite uma última opinião, é desconfortante que esse tipo de medida aconteça antes de outras mais importantes.
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